Destaque de Campinas na inovação é resultado da capacidade de articulação dos atores do seu ecossistema

Destaque de Campinas na inovação é resultado da capacidade de articulação dos atores do seu ecossistema

No começo de março, o Ecossistema de Campinas ficou entre os três finalistas no Prêmio Nacional de Inovação 2021-2022 (PNI), realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e considerado o mais relevante da área. Para chegar a esta posição, um projeto elaborado a muitas mãos reuniu informações sobre ações realizadas por 38 atores do ecossistema, entre eles instituições de pesquisa e ensino, empresas e o poder público.

Mas, afinal, o que levou a cidade a se destacar nesta disputa – e em tantos outros rankings de inovação e empreendedorismo?

Para ficar entre os três ecossistemas mais inovadores do país, segundo o PNI, Campinas foi avaliada em alguns pontos que servem de parâmetro para medir a sua relevância e capacidade de inovação em comparação a outros locais: a importância dos seus ambientes de inovação, a presença de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT’s) e Centros de Inovação, o protagonismo empresarial, as políticas públicas existentes e sua capacidade governança.

Neste último item, foi destacado o trabalho realizado pela Fundação Fórum Campinas (FFCi) que há 20 anos atua para promover a integração entre esses atores do ecossistema. A entidade reúne os dirigentes de instituições de pesquisa e ensino, principais associações empresariais e representantes do poder público, totalizando a representação de 25 entidades que compõem seu Conselho Superior.

 

Eduardo Gurgel do Amaral, presidente da FFCi

Eduardo Gurgel do Amaral, presidente da FFCi e diretor do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, explica que essa integração é um elemento fundamental para fomentar e assegurar maior apropriação da Ciência & Tecnologia (C&T) gerada na região. Essa C&T propicia a geração de inovação de base tecnológica na indústria, aumentando assim sua competitividade e possibilitando, consequentemente, o aumento da atividade econômica baseada em conhecimento.

“A integração promovida pela FFCi permite uma visão sistêmica e uma ação conjunta para aproximar e melhorar as relações entre ICTs, empresas e governo. Melhora o entendimento das necessidades, dificuldades e também das oportunidades, impactando positivamente o ambiente de negócios. Outro aspecto importante é a elaboração conjunta, ou o apoio, de projetos estratégicos capazes de potencializar o impacto da CI&T na região e no país”, afirma.

E essa coesão é fundamental para uma cidade que se destaca, em relação a outros ecossistemas, por sua alta concentração de ICT’s. Por isso, de acordo com Gurgel, quanto maior a proximidade e a sintonia entre aqueles que geram conhecimento, aqueles que produzem e aqueles que são indutores e reguladores das atividades, maior serão os resultados para toda a sociedade.

“O setor empresarial só tem a ganhar com uma maior aproximação do setor acadêmico. Isso  permite a ele estar na vanguarda e ser mais competitivo. E, neste sentido, Campinas se destaca por sua capacidade de articulação”, acrescentou.

Neste contexto, a ação do poder público na elaboração e implantação de regulamentações e diretrizes são fundamentais para que as articulações entre os atores sejam possíveis e para que a inovação seja capaz de promover as transformações socioeconômicas. 

No final de 2021, Campinas aprovou a Lei de Inovação e tornou-se a primeira no país a se adequar ao Marco Legal das Startups e Empreendedorismo Inovador. 

Com a lei, a cidade oferece melhores condições para startups e investimentos relativos à inovação e tecnologia. A expectativa é que o número desse tipo de empresa em Campinas cresça 30% até 2023. O município já é reconhecido pela sua alta concentração de empresas de base tecnológica – conta com cerca de 500 startups. 

A Lei da Inovação também permite parcerias que promovam melhorias nos serviços públicos oferecidos à população, por meio do “Sandbox”. O modelo previsto no marco regulatório possibilita a contratação de startups – de forma mais rápida e menos burocrática – para que elas criem, testem e implementem soluções inovadoras. Na Prefeitura, esse modelo possibilita que essas empresas promovam melhorias na gestão pública.

Outra possibilidade trazida pela nova legislação é a contratação de tecnologias a serem criadas. Ou seja, a partir de um problema do poder público, a startup propõe e desenvolve soluções tecnológicas.

Segundo Newton Frateschi, secretário adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Campinas, a função do poder público é oferecer condições para que o ecossistema funcione, de fato, como um ecossistema deve ser: com a interação de seus atores e com um ambiente favorável às empresas interessadas em transformar a inovação em negócio.

“As instituições são muito fortes, por si mesmas, mas, quando o poder público as coloca num  ecossistema, o sucesso de um transborda para todos. O papel final do poder público é regionalizar e posicionar esses atores de tal forma que, quando se fala de Campinas, lembra-se dos atores. E, quando se fala dos atores, lembra-se de Campinas”, afirmou.

Ambientes: parques impulsionam a inovação de Campinas com integração de ICT’s e empresas 

A existência de um território qualificado tem papel estratégico para que empresas busquem se instalar na cidade. E, neste sentido, Campinas novamente se destaca em relação a outros ecossistemas.

A cidade conta com cinco parques tecnológicos, sendo três em operação: o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, o Pólis de Tecnologia (ligado ao CPQD) e o Techno Park Campinas. Juntos, eles concentram 127 empresas, em sua grande maioria de base tecnológica e que desenvolvem projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), sendo responsáveis por mais de 10 mil empregos.

A presença desses ambientes estruturados são fundamentais para a promoção de novos negócios, para as parcerias entre ICTs e a iniciativa privada no desenvolvimento de novas tecnologias e para o compartilhamento de conhecimentos e experiências. Entre os resultados obtidos está o crescimento das empresas, geração de empregos qualificados e capacitação de profissionais.

Rubens Maeda, gerente do Pólis de Tecnologia

Para Rubens Maeda, gerente do Pólis de Tecnologia, a inovação aberta tem sido um dos pilares na atuação do parque e de diversas empresas que residem nele. Isso tem possibilitado a construção de soluções de forma colaborativa, redução no tempo e  no custo de introdução de novos produtos no mercado e maior competitividade para as empresas.

“O ambiente e a atuação dos parques tecnológicos são fundamentais para, de forma estruturada, promover interações qualificadas entre os diversos atores do ecossistema. Tais encontros permitem o melhor entendimento sobre a atuação de cada ator, potencializando as oportunidades de parcerias, negócios conjuntos e a assertividade dos produtos e serviços”, afirma Maeda.

José Luiz Guazzelli, diretor do Techno Park, os parques tecnológicos também desempenham um papel estratégico no estímulo à cultura de inovação, principalmente pela interação com a academia devido à alta concentração de ICT’s na cidade.

“O resultado é a transformação do conhecimento em produtos de interesse da sociedade, uma estratégia que permitiu a Campinas transformar-se em um dos mais avançados Polos Tecnológicos do Brasil”, afirmou. 

Centros de inovação e a transferência de conhecimento para a sociedade

Campinas tem grande densidade não só de ICT’s, mas também de empresas inovadoras, o que leva a cidade a possuir um importante centro de inovação, que é a Agência de Inovação Inova Unicamp, um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Unicamp.

 

A Inova é responsável pela transferência da tecnologia gerada na Universidade, pela negociação de projetos de pesquisa em colaboração com empresas, pela gestão do Parque Científico e Tecnológico e da Incubadora de empresas de base tecnológica (Incamp), pela promoção da cultura empreendedora e contato com as empresas-filhas, aquelas criadas por ex-alunos. 

Como um dos resultados dessas ações está o crescimento de novos convênios de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) com o setor empresarial. Em 2021, foram 86 novos contratos assinados, um número recorde e que representa mais de R$ 72 milhões de recursos voltados à pesquisa. Essas parcerias estimulam a inovação em processos, produtos e serviços nas mais variadas áreas e aceleram a transferência de tecnologias e conhecimento desenvolvidos na Universidade para o mercado.

Para a diretora-executiva da Inova, professora Ana Frattini, o Prêmio Nacional de Inovação também reconhece o do pioneirismo da Unicamp como uma universidade empreendedora. “A Unicamp se destaca por estimular a inovação e o desenvolvimento socioeconômico sustentável, ampliando o impacto do ensino, da pesquisa e da extensão na sociedade como um todo.”

No que tange a sua interação com outras ICTs do ecossistema de Campinas, a Inova atua ativamente junto à gestão e operação das atividades da Fundação Fórum Campinas e contribui com o fortalecimento e integração dos atores do ecossistema.

ICT’s: celeiro da produção do conhecimento e formação de mão de obra altamente qualificada

Campinas é um importante pólo de desenvolvimento tecnológico do país, devido a renomadas universidades e Instituições de Ciência e Tecnologia que somam cursos de mestrado e doutorado que impulsionam a geração de conhecimento. 

Somente a Unicamp possui 83 cursos de mestrado e 72 de doutorado, o que evidencia a sua capacidade de criar um relevante portfólio – um dos maiores do país com 1.276 patentes vigentes em 2021.

A PUC-Campinas, uma das mais importantes universidades particulares, conta com 10 programas de mestrado e três de doutorado.

Já ICT’s como Instituto Agronômico de Campinas (IAC)  e Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) também ofertam cursos. O primeiro, disponibiliza programas de doutorado e, o segundo, um curso de mestrado que recebe de 10 a 12 alunos por ano.

Os espaços, como laboratórios para desenvolvimento de pesquisas e tecnologias avançadas, também são fundamentais para posicionar Campinas como um importante ecossistema de inovação.

Os laboratórios vinculados às ICTs possuem uma base tecnológica sólida e abrangente. Um exemplo é o CPQD, um dos principais centros de inovação privados do Brasil. Suas competências, infraestrutura laboratorial e tecnologias o habilitam a atuar como parceiro de inovação de empresas e do Estado, em projetos para benefício da sociedade.

Somente o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) possui quatro laboratórios que são referências mundiais em P&D tecnológico: o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron que opera o Sirius, o Laboratório Nacional de Biociências, o Laboratório Nacional de Biorrenovável e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia.

Já a Embrapa conta com uma infraestrutura de oito laboratórios para a realização de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação e tecnologias avançadas, além de um laboratório para projetos colaborativos que contribuem para a formação de alunos.

Segundo José Luis de Souza, presidente executivo da FITec –  que também conta com uma   infraestrutura de pesquisa diferenciada no cenário nacional – Campinas tem as condições necessárias para abrigar centros de desenvolvimento tecnológico e atrair empresas, ICT’s, startups e grandes talentos.

Para ele, os resultados desse ecossistema são reconhecidos em setores como telecomunicações, saúde, agro, indústria 4.0, TI etc. 

“As ICT’s e universidades desempenham papel relevante no desenvolvimento tecnológico do Brasil, na formação de pessoal de alta qualidade e na visão estratégica dos mais importantes setores da economia nacional”, avalia.

Com atuação nesses setores desde 1990, a FITec tem presença relevante no desenvolvimento de produtos que alcançam mais de 20 países e, cada vez mais, amplia sua presença nacionalmente para estados como Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Protagonismo empresarial: a participação das empresas no ecossistema de Campinas

A alta concentração de empresas inovadoras e de base tecnológica também contribui com o posicionamento de Campinas como um importante ecossistema de inovação. Não apenas por estarem instaladas na cidade, mas pela atuação e investimento, projetos e investimentos para o desenvolvimento de novas tecnologias e profissionais altamente qualificados.

Um dos exemplos é o iFood, uma startup unicórnio liderada por um ex-aluno da Unicamp, sempre muito próxima do ecossistema com fomento de novos negócios, gerando impacto nas áreas de empreendedorismo e na própria formação de talentos. 

Em fevereiro deste ano, o Ifood anunciou a construção do Hub Integrado de Pesquisa em Computação (CSHub) da Unicamp. O novo espaço é um prédio de três andares no Instituto de Computação da Universidade. O objetivo é oferecer estrutura e suporte para que estudantes, professores e o público possam aplicar, na prática, o conhecimento acadêmico e desenvolver pesquisas e projetos de novas tecnologias que resultem em descobertas inovadoras de alto nível para o mercado. O espaço deve começar a funcionar em 2023.

Outras empresas do ecossistema também têm ações importantes. Na Solvay,  o  Laboratório de Biotecnologia Industrial apoia diretamente startups em co-desenvolvimento.

A Bayer possui acordos de parceria, realizando desafios de inovação para capturar oportunidades de colaboração com hubs de inovação no Brasil. 

A CPFL tem um portfólio de 41 projetos em andamento, totalizando investimentos previstos de mais de R$ 320 milhões. O grupo IDEA investiu no último ano R$ 7,6 milhões em projetos externos de P&D, sendo R$ 4,3, milhões destinados à Região Metropolitana de Campinas (RMC).

A Cargill tem grande impacto com o Programa Scale Up Alimentos. A 3M promove um relacionamento intenso com o ecossistema de inovação, abrindo projetos com startups e investimentos de inovação aberta com órgãos como o IPT e ABDI, entre outros.

 

Texto: Bruna Mozer

Assessoria de Imprensa FFCI

comunicacao@forumcampinas.org.br

Fotos: Pedro Amatuzzi e Antonio Scarpinetti